10.29.2013

1990s WITH COSAC NAIFY

1990s with Cosac Naify in Brasil!
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Text by João Perassolo!


A imagem que melhor representa 1990s é, não por acaso, a escolhida para estampar a capa: uma jovem, Neca, capturada no exato momento em que cai na piscina, água espirrando para todos os lados. “Ninguém sabia o que ia acontecer, mas a gente não podia parar” avisa o leitor o texto de introdução, escrito pelo fotógrafo autor do livro, o paulistano Marcelo Krasilcic [que autografa no dia 5 de abril na SP-Arte].
O conjunto de 179 fotos reunidas em dois volumes gigantes captura a efervescência da música eletrônica nos anos 90 e seu entorno de moda, vida gay e comportamento. Foi o momento em que o underground passou a ser mainstream, quando lounge não era conhecido como música de elevador. Vide as imagens da atriz Chloë Sevigny no ferry e no metrô do World Trade Center, poucos meses antes da fama no filme ‘Kids’ (1995); ou o duo de trip-hop Everything But the Girl em pose blasè no banco traseiro de um carro, foto icônica que virou a capa do belo disco ‘Walking Wounded’ (1996).
Essa revolução na cultura jovem só poderia ser registrada com exatidão a partir do maior centro produtor de hypes do mundo, Manhattan, para onde Krasilcic se mudou com 20 anos, em 1990. Primeiro como estudante de fotografia da New York University e depois como profissional, abastecia as revistas Dazed & Confused, Purple, Self-Service e Visionaire, porta-vozes do movimento. Era a pessoa certa, no lugar certo, na hora certa. Sobram poses engraçadas nos ensaios fotográficos para os periódicos, a exemplo do modelo Maurizio chupando o dedão do pé ou da garota Nikki gritando com a boca colada no vidro do carro.
Embora boa parte dos cliques tenha sido produzido sob demanda comercial, paradoxalmente o aspecto mais bacana de ’1990s’ é seu tom pessoal, não-jornalístico, como se o autor nos mostrasse seus álbuns de fotos. O artista chama carinhosamente estes anos de sua “década de descoberta” – daí os registros de seus amantes e amigos, a maioria nus ou semi-nus, em espírito de festa-sem-fim: deitados em poses eróticas, correndo (para a piscina?) no reduto gay Fire Island, fazendo festa em grupo na cama de casal, olhando para a lente do fotógrafo com a toalha enrolada na cintura. Estão retratados personagens da cena paulistana como o estilista Dudu Bertholini e o diretor do Mix Brasil André Fischer, à época bastante jovens.
1990s guarda um forte parentesco com Babado Forte (Editora Mandarim, 1999), livro da jornalista Erika Palomino que lança um olhar apaixonado sobre a interface da juventude de São Paulo com a moda, a noite e a música eletrônica na virada do século 21. Foi quando “a grande mídia habituou-se a cobrir estes assuntos com atenção e simpatia”, ela diz. Era o início do plano Real, a globalização e a internet davam seus primeiros passos, e isto fazia a informação circular mais rápido, colocando o país definitivamente na rota do consumo cultural.
O trabalho de Krasilcic traz de volta estados de humor que parecem ter perdido espaço no imaginário sisudo do novo milênio: a diversão pela diversão, o prazer da descoberta do mundo, a deliciosa fantasia da vida noturna que dizia “don’t forget your sunglasses” – não esqueça os óculos escuros – porque a festa iria até às 11 horas da manhã do dia seguinte.

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